quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Capítulo II


No dia da minha primeira comunhão, antes de ir para igreja, demorei no banho, pus o velzinho na cabeça e pensei como nunca nos olhos e nas pernas, “mistério sem número”, na minha estação. Naquele padre.

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Que me ensinava o catecismo com uns tons de cacetismos, fazendo relevos tão tímidos, para os meus olhos, frondosos, no hábito corrido como a noite, a noite que não ganha os pés e deixa as fitas das sandálias à sorte dos pés que não andam. Macero as vezes calmo e impiedoso do tempo.

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Nos laços dos meus treze anos, na lassidão do pululante engano eu me entregava as rezas na esperança de me salvar dos sentimentos vadios, a doce e peregrina cara de homem, forrada de pêlos, deitando-me zelos tão específicos no seu santo, nada santo olhar.
Jamais me esquecerei desse homem e nem do seu caminhar. Sentindo os colhões entre as pernas. Eu os imaginava tão mornos e no roçar das coxas e pêlos tão animados forasteiros, desenganando e desobedecendo a vontade desse homem de ser Deus, ser tão divino, nesse embalsamado de carne e de arrimo, ele, o padre, era muito mais homem, muito mais bicho, muito mais macaco nessa escala exitativa, nessa escala evolutiva, o que evoluía, eram esparsas contrações que me assaltavam do ventre moço até as pernas – tudo eu senti nas lindas horas da minha primeira comunhão – Gostaria de aproveitar para dizer ao meu bondosíssimo padre que morreu tão jovem sem me experimentar, nem ao menos um beijo, apenas uma fogosa passada de mãos, nas coxas, um beijo no pescoço, lado esquerdo do pescoço e uma lágrima ejaculante de tesão, de tensão e desespero. – Imaginem quantas chibatadas! E eu o amei de alguma forma!

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