segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Capítulo IX





Hoje acordei molhada de suor. O algodão e as rendas do meu vestido de dormir perfumados. Um gosto perdido de sonho no interior da minha boca, minha boca é uma igreja e o céu... a peleja, n'onde se esplaina o diabo, do desenho das minhas veias ao alto céu do meu palato e eu...
* * *

Telúrica, saí do chão de tua boca atravessando os hinos da tua voz, tão rouca e evanecida de desejo. Do sofejo do meu bejio nos teus braços brancos meu gemer. Nos teus braços brancos meu gemer, geminiando teu sorriso nesta harmônica zodiacal, meu paraíso todo feito de sal, branco e caloroso como os teus pés. “Blanco” e lagrimoso como os anéis tão luminosos dos teus olhos circundados de aurora; pólvora e desejo, tão perturbados da hora, fasticiosa e triste do gozar. Que ele seja um segredo de Deus, o somente Seu e de Deus.
Vejo alegria de cantar nos teus beijos.

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Ao senhor carroceiro


1 kilo de milho bem amarelo;
2 pacotes de café moído;
1 dúzia de rosas vermelhas, com espinhos;
canela em pau;
chocolate para capuccino;
oito velas de cêra de abelha;
1 vidrinho de alfazema;
300 gramas de pólvora;
1 braçado de alecrins;
E azeite para minha sopa de gengibres, __Gengibre eu tenho!
. . Favor ainda não se esquecer de trazer uma garrafinha de água benta, e de levar, por favor! Não esqueça! O bolo de limão e as amoras para a garganta do padre. Diga-lhe que Malvina mandou lho dizer que: “__É tiro e queda!”
. . . E que preciso de oração e de uma sua visita, porque sinto-me com a alma adoentada, embora esteja e tenha força nos pés... Os pés! Os pés! Os pés! Meu Deus! Quantos pés! E sempre os mesmos pés brancos, blancos no meu desejar! Feitos de leite de cabra e poeira de estrela lunar. Estas últimas palavras é que não as disse ao carroceiro, que não sou louca!

De vez!...vou degenerando aos pouco, e hoje, não sei porquê preciso disso tudo por que sinto-me tediosa, sem grandes apetrechos, sem grandes remelexos, Nossa Senhora como fui vulgar! E se talvez me adiantasse mergulhar na vulgaridade e deixar que na sala tomem chá ou café, e que os seus encantos sejam apenas a falta de fé, espatolada nas xícaras douradas de Cristo crucificado.
É tudo tão católico e tão metabólico! eu trancada no quarto, enquanto as velhas gemem com o prazer dos biscoitos! Eu e os meus muitos coitos, enquanto os dedos afoitos __ Eu continuo vulgar! E os meus dedos afoitos, felizes! à minha fronte arqueada, as saias no alto sem destino, presas na boca, babadas, na boca, por meu salivar de menino perturbado no sanatório da maldade....Eu contrária à tudo! Gozo acá de felicidade ... vendo o lindo moço passar, todo nu afrontando os meus olhos....
.....Repito tudo isso até o carroceiro chegar, mas continuo muda, profusa, tão calada e intrínseca, tão babada e síndica, enquanto a prataria geme o seu roer. Enquanto eu espero para morrer, arrebatada por uma fagulha, uma língua de fogo, “pentecostes”, que invasora como eu, me arrebente e me entre pelo ânus, como eu, pelos planos tão forjados na vagina e eu chore, eu flore e reflore, e estoure num ímpeto de lama a ausência da minha felicidade, na presença desse alvorecer... Que se “alvora”, que ser arvora e já tenho tanto medo!

* * *


Agora reze uma ave-maria! Reze! Me obedeça!Que estou mandando!!Vá por mim,que às vezes sou pastora, sou mentora! E porque reconheço o veneno, o meu, nesta hora nada perturbada, tenho razão! Lhe peço que dobre os joelhos no chão e depois de rezar teus sofêjos, nada malditos, abrigados, sociais...talvez, fosse melhor parar! e tentar voltar logo mais a me ler de novo!Não estou exigente porque hoje sou cobra, e como quem ama não cobra, __Que coisa esquisita!Eu não concordo com isso!__Não estou exigente porque sei que hoje estou “cobra” e nem todos gostam de brincar com elas. Eu gosto! E as minhas tias tomam chá